As Lesões Pré-Cancerosas Gástricas

1.
A carcinogénese gástrica desenvolve-se de acordo com a cascata de Correa. Inicia-se por uma gastrite crónica que evolui para lesões pré-cancerosas (gastrite atrófica, metaplasia intestinal, displasia de baixo grau, displasia de alto grau) culminando no adenocarcinoma.

2.
Tem sido entendido que a atrofia gástrica seria o factor de risco mais importante para o carcinoma gástrico distal de tipo intestinal. A progressão a carcinoma gástrico aos 10 anos afecta apenas 0.8% dos doentes com GA. Existem evidências que ligam a extensão e a topografia da atrofia com o risco de carcinoma gástrico tendo sido proposto um sistema para estadear a referida atrofia (Operative Link for Gastritis Assessment, OLGA). Os estádios (0 a IV) exprimem a extensão progressiva da atrofia avaliada nas biopsias do antro e do corpo. Um pequeno grupo de doentes (na realidade 5.3%) classifica-se nos estádios III ou IV sendo que estes doentes teriam um risco significativo de carcinoma gástrico.

3.
Alguns autores pensam que o sistema OLGA deveria ser abandonado. Na realidade, este sistema (com escassa concordância de diversos observadores face à mesma amostra) foi modificado substituindo-se a apreciação da atrofia pela apreciação da metaplasia intestinal (MI, OLGIM). A metaplasia intestinal é mais fácil de avaliar que o espectro global das lesões atróficas. Mais uma vez, um pequeno número de doentes (na realidade 5.0%). classifica-se nos estádios III ou IV sendo que estes doentes têm um risco significativo de carcinoma gástrico. Estes indivíduos deveriam ser sujeitos a vigilância endoscópica embora se saiba que a progressão a carcinoma gástrico aos 10 anos afecta apenas 1.8% dos doentes com MI

4.
As guidelines das Sociedade Europeia de Endoscopia Digestiva não definem uma idade bem definida para se realizar uma primeira endoscopia que procure a existência da metaplasia intestinal sendo sugerido que essa endoscopia poderia ser efectuada aquando da primeira colonoscopia de rastreio. Estudos mais recentes indicam que esta pesquisa da metaplasia intestinal apenas deve ser efectuada em doentes com mais de 60 anos de idade. Os intervalos de vigilância adequados para doentes com as condições citadas (OLGIM III/IV) não estão bem definidos embora a ESGE recomende intervalos de 3 anos.

5.1.
Deve acentuar-se que as lesões pre-malignas podem manter-se estabilizadas durante muitos anos (assim acontece em 70% dos casos ou seja na maioria dos casos); podem regredir (em 16% dos casos) em alguns casos a uma mucosa normal; podem progredir (em 14% dos doentes).

5.2.
Certas características da metaplasia antecipam a evolução. Os casos com metaplasia completa (perda completa do fenótipo gástrico) raramente progridem (3%); os casos com metaplasia incompleta (perda parcial do fenótipo gástrico) progridem com frequência (38%). Os casos com metaplasia intestinal regridem em cerca de 20% dos casos, mas essa evolução é rara nas MIs incompletas.

5.3.
Finalmente, existem séries em que os carcinomas gástricos diagnosticados em endoscopias de vigilância surgem, com frequência, em doentes não integráveis nos grupos de risco descritos.

Pimentel-Nunes, P.; Libânio, D. et al
Management of epithelial precancerous conditions and lesions in the stomach (MAPS 2) …. Consultar aqui.
Endoscopy.2019.51.365-88

Chapelle, N.; Peron, M. et al
Long term follow-up of gastric precancerous lesions in a low GC incidence area
Cli Tranl Gasatroenterology.2020.11.e00237

G Esposito, G Cazzato, M et al
Gastric cancer occurs at 3-years endoscopic surveillance in low risk atrophic gastritis patients
ESGE Days, 2020. Comunicação oral

Zullo, A.; Lahner, E. et al
Is there an optimal age threshold for intestinal metaplasia on gastric mucosa in western populations?
GE. 2021.28.398-402

Zullo, A.; Lahner, E. et al
Is theres an optimal age threshold for searching metaplasia on gastric mucosa in Western populations?
GE.2021.28.398-402

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