1. SITUAÇÃO
LFS, de 41 anos foi acometido de um acesso súbito de dores no flanco esquerdo em Setembro de 2020. A dor sem componentes cólicos, sem sintomas urinários ou digestivos foi crescendo nas horas subsequentes e levou a uma admissão hospitalar. VS 5; Hb 13.6. Gbs 6.1, Plaquetas 146. Glicémia post prandial 146; creatinina 0.9. AST, 25, ALT 17. Sumária de urinas normal. Ecografia do abdómen superior, normal. CT abdominal: lipomatose retroperitoneal esquerda, interna ao psoas, externa em relação aos vasos ilíacos. Uma RM nada acrescenta. As queixas dolorosas desapareceram. O doente recebeu uma orientação cirúrgica. Procura para ouvir uma segunda opinião.
2. ENQUADRAMENTO
A lipomatose retroperitoneal é uma condição benigna descrita pela primeira vez em 1959. Existem 2 casos por cada 100 000 habitantes não sendo diagnosticada com frequência devido ao seu curso assintomático na maioria dos doentes. 18 vezes mais comum em homens. Não costuma aparecer isolada: em muitos casos os lipomas, não capsulados, aparecem igualmente no pescoço ou no Tórax.
Em certos indivíduos pode causar compressão de órgão da vizinhança e manifestar-se por sintomas urinários (aumento de frequência das micções) ou digestivos (prisão de ventre, sensação de evacuação incompleta). Neste caso concreto urge verificar se os ureteres estão de algum modo envolvidos dada a proximidade anatómica das estruturas.
A doença pode confundir-se com um lipossarcoma. No caso vertente, contudo, o aspecto homogéneo quer na TAC quer na Ressonância permite excluir esta possibilidade.
A doença não exige nenhum tratamento especial. Não se recomenda cirurgia a não ser que haja compressão dos órgãos da vizinhançadesignadamente dos ureteres.
3. ASSIM SENDO
Para haver ideia sobre o compromisso da função renal deve realizar uma cintigrafia renal (GFR normalizado 73 ml.mn. À direita ligeira estase na região piélica que persiste até aos 20 minutos e que ainda se mantém na imagem obtida após micção; à esquerda, entre os 6 e os 12 minutos, ligeira lentificação na drenagem do produto ao longo do ureter com normalização até final do exame …). O exame deve ser repetido dentro de 12 meses para se considerar uma opinião especializada neste campo.
Deve realizar Ressonâncias magnéticas periódicas (a primeira dentro de um ano; a segunda num momento que depende da evolução ao fim de um ano). Não deve fazer TACs já que estes exames envolvem o uso de grande quantidade de radiações.
Só se tornará necessária uma cirurgia se houver sintomas incomodativos ou se a função renal se comprometer. Deve salientar-se que a cirurgia nunca consegue remover toda a lesão já que esta lipomatose não é encapsulada.
Luis Tomé. Dezembro 2020