1. Uma dor abdominal crónica com origem na parede foi já descrita em detalhe em 1923. Já, nessa altura, se dizia que estes doentes são submetidos com frequência a uma bateria inútil de testes diagnósticos.
2. A parede abdominal recebe inervação proveniente dos ramos ventrais de T7 a T12. Os nervos intercostais correm ao longo das costelas que abandonam para se dirigir à parede abdominal. No bordo lateral do músculo recto o nervo faz um ângulo de 90º deslocando-se da parte interior para a parte exterior da parede. Aqui chegado faz um novo ângulo recto para prosseguir ao longo da parede (em posição subcutânea).
3. A zona de deslocação da parede abdominal interna para a parede abdominal é origem de dores cuja origem não se conhece (pressão intra ou extra abdominal; isquémia; compressão do nervo pela gordura que o envolve). A dor com esta origem sente-se no abdómen superior mais vezes do lado direito que do lado esquerdo.
4. Em doentes admitidos por dor abdominal crónica, a prevalência da dor descrita é de cerca de 3%; entre os doentes previamente explorados por dores abdominais sem um resultado conclusivo a prevalência é de 30%.
5. Os doentes têm uma dor muito bem localizada que é sempre no mesmo sítio. Costuma ser arrastada sendo que mais de 35% têm queixas há mais de um ano. Localiza-se no bordo externo do recto anterior. Sem relação com a ingestão de alimentos ou com os hábitos intestinais. Nunca é uma cólica. Menos intensa com o doente deitado, mais intensa quando se deita para o lado afectado ou quando se senta. O aumento da pressão abdominal (espirro, tosse, riso, exercício físico) agrava a dor. Os indivíduos afectados não se sentem doentes, mas a qualidade de vida está comprometida.
6. O exame físico é essencial. O doente deve ser observado de pé: o doente localiza bem o local da dor (com a ponta do dedo). A área envolvida não costuma ter mais de 2 cm situando-se no bordo lateral do recto anterior. Se deitar o doente e colocar o dedo na zona onde doi a dor aumenta se mandar contrair os músculos abdominais (levantar as pernas estendidas; levantar o tronco sem ajuda dos braços) sabendo-se que uma dor visceral diminui nestas circunstâncias.
7. Uma explicação adequada da situação é essencial. Alguns doentes aceitam viver com estas queixas uma vez esclarecidos. Para os outros alternativas: injecção de anestésico locais ou de anestésicos locais mais cortisona; neurólise química; cirurgia (neurectomia ou descompressão).
A injecção de um anestésico local no local onde se desperta a dor induz alívio dos sintomas em mais de 83% dos casos; em 20 a 30% dos doentes o alívio é definitivo. A associação de um corticoide parece resultar em maior eficácia. Não está esclarecido que tipo de corticoide se deve usar (um de curta duração de acção como a prednisolona ou um de longa duração de acção com a triamcinolona) embora o único estudo detalhado tenha usado triamcinolona.
Existe a possibilidade de injectar fenol (neurólise química) mas há pouca experiência com este método não se sabendo qual o melhor modo de definir o exacto local de injecção.
A cirurgia é outra alternativa. O feixe nervoso no local de maior dor é exposto excisando-se cerca de 5 cm. Acompanha-se de alivio da dor no longo prazo em cerca de 70% dos casos. Reserva-se apenas para doentes que têm um alívio temporário com as injecções.
Koop, H.; Koprdova, S.; Schuman, C.
Chronic abdominal wall pain
Deutsche Arz.Inter.2016.113.51-7
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