Vagotomia e Emergência da Doença de Parkinson

A DOENÇA DE PARKINSON

A doença de Parkinson (DP) é a condição neurológica cuja prevalência mais se acentua em tempos recentes. Afecta raramente indivíduos com menos de 50 anos. Tem, como se sabe, uma rapidez de evolução caprichosa.

Numa fase inicial, as lesões observam-se no núcleo olfactivo anterior e nos núcleos motores dorsais de vago. Numa fase intermédia, envolve a morte dos neurónios dopaminérgicos na substância nigra disseminando-se as lesões a outros segmentos do SNC durante a evolução. Nos neurónios envolvidos observam-se os chamados corpo de Lewy, que são agregados de alfa sinucleina.

Manifesta-se por sintomas motores que envolvem bradiquinésias (lentidão e movimentos mais pequenos na repetição de uma tarefa como abrir e fechar as mãos); rigidez (resistência ao movimento passivo de uma articulação); tremores em repouso; instabilidade postural.

Manifesta-se ainda por sintomas não motores. Neste caso, podemos encontrar perda do olfacto; disfunção do sono (perturbações de comportamento na fase REM do sono; sonolência diurna); disfunções autonómicas (obstipação; esvaziamento gástrico retardado; urgência urinária; disfunção eréctil; hipotensão ortostática); perturbações psiquiátricas (depressão, ansiedade, apatia, psicose); problemas cognitivos.

OS PRESSUPOSTOS

Foi sugerido que as lesões próprias da doença de Parkinson se iniciariam nos nervos periféricos designadamente nos plexos de Meyer e Auerbach para se disseminar, por via retrógrada, ao longo do vago aos núcleos motores dorsais do tronco cerebral por um mecanismo semelhante ao que acontece com os priões (transmissão célula a célula, por exemplo).

Estas ideias resultam na hipótese de que a vagotomia reduziria o risco de doença de Parkinson. De facto, a injecção intra gástrica de rotenona promove a acumulação de alfa sinucleina no sistema nervoso entérico que dissemina aos núcleos motores dorsais do vago e à substância nigra. A ressecção do vago antes do tratamento com rotenona bloqueia a disseminação da patologia parecida com o Parkinson.

ESTE ARTIGO

Liu e col estudaram 9430 doentes submetidos a uma vagotomias (3445 tronculares e 5978 selectivas, 7 desconhecidas) que compararam a 377 200 indivíduos de controle. Encontraram um total de 4930 casos de Parkinson num follow-up prolongado (73 milhões de pessoas ano)

Os doentes submetidos a uma vagotomia troncular têm menor probabilidade de desenvolver uma doença de Parkinson 5 ( HR 0,59; entre 0.37 e e 0.93) e 10 anos após a intervenção. Esta associação desaparece quando se observam casos com 20 anos de seguimento.

Os doentes submetidos a uma vagotomia troncular têm menor probabilidade de desenvolver uma doença de Parkinson que os doentes submetidos a uma vagotomia selectiva (HR 0,54; entre 0.32 e 0.91).

Um editorial (Neurology.2017.88.1982), que acompanha este artigo, discute as implicações destas descobertas e as dúvidas que se lhe associam.

Bojing Liu; Fang Fang,
Vagotomy and Parkinson disease A Swedish register–based matched-cohort study
Neurology.2017.88.1996-2002

Consultar artigo completo aqui.

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